quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Pesquisadores desenvolvem produtos a partir do reaproveitamento de resíduos

O aproveitamento de resíduos faz parte da pauta sustentabilidade, tão falada nos últimos tempos, e traz benefícios como a redução do desperdício, dos impactos ambientais e o aumento do crescimento econômico. Diante disto, pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA) trabalham no desenvolvimento de novos produtos, destinados à alimentação humana e animal, a partir do aproveitamento de resíduos agroindustriais.

"O projeto foi aprovado no edital para grupos emergentes de pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e a ele estão submetidos três subprojetos relacionados ao aproveitamento de resíduos", explica o coordenador dos trabalhos, Carlos José Pimenta, do Departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da UFLA.


DOCE DE CAFÉ COM LEITE

Seguindo essa linha, o grupo da UFLA resolveu unir ao sabor da tradicional mistura de café com leite o doce, outra tradição mineira. O doce de café com leite é uma inovação. Primeiro, por se tratar de um produto inexistente no mercado. Segundo, por utilizar um resíduo em sua produção, o soro de leite, muitas vezes descartado pela indústria de laticínios. "Precisávamos chegar na formulação ideal para fazer o doce e encontrar a melhor maneira de inserir nele o café", conta a responsável pela pesquisa, Larissa Ferreira.
Primeiro foi feita uma análise de concentração do café, para que não ficasse fraco nem forte, mas ideal. Em seguida, foram testadas as concentrações do soro de leite e realizados testes sensoriais. "Os resultados ficaram próximos, o que dificultou a escolha da quantidade ideal", relata Ferreira.
Futuramente, a intenção dos pesquisadores é também substituir o amido pela mucilagem do café, uma substância viscosa localizada entre a casca e a semente do grão. Ela tem propriedades nutricionais similares e funciona com o mesmo princípio, de dar viscosidade. "Até o momento, a substância é descartada na natureza, o que constitui um dos maiores problemas ambientais do descascamento do café. Aproveitar esse resíduo é um projeto inédito", adianta Carlos José Pimenta.
O doce de café com leite já pode ser considerado um produto, mas ainda não está no mercado. O último passo para que esteja pronto para as vendas é definir sua vida de prateleira, ou seja, o prazo de validade. O processo não é simples, pois é preciso investigar quanto tempo suas características físicas e químicas permanecem estáveis. Este será o projeto de doutorado de Larissa Ferreira. Enquanto a pesquisadora não conclui a investigação, os apreciadores de doces e de café com leite devem esperar mais um pouco para experimentar o novo sabor.


RAÇÃO

Em outra linha, a pesquisa da Universidade Federal de Lavras está relacionada à piscicultura. A partir do aproveitamento de diferentes tipos de resíduos, os pesquisadores pretendem reduzir custos para os pequenos produtores e diminuir o impacto ambiental. Um dos trabalhos utiliza a melancia. Na produção de frutas minimamente processadas, aquelas que encontramos nos supermercados descascadas, cortadas, embaladas e prontas para o consumo, retira-se somente a polpa e a casca vira resíduo. "Aproveitamos a casca da melancia para obter um tipo de ração", explica Pimenta.

A partir dos resultados positivos, os pesquisadores investigaram mais dois tipos de resíduos para a alimentação de peixes: a casca do café e os resíduos da filetagem dos próprios peixes. "Utilizamos o mesmo processo para obter a ração a partir da casca do café. Conseguimos otimizá-lo a partir da experiência anterior com a melancia", relata Carlos José Pimenta.
A casca do café, quando reaproveitada, serve de adubo orgânico. Utilizá-la para alimentação de peixes é uma novidade. "Os resultados também foram positivos e similares aos da casca da melancia", completa. A filetagem, por sua vez, propõe utilizar as sobras do peixe, antes descartadas, para alimentá-lo. Segundo Pimenta, é o projeto mais viável para pequenos produtores.



SITE
http://www.agrosoft.org.br/agropag/213470.htm

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Esgoto substitui adubo e aumenta produção de madeira de eucaliptos

Felipe Maeda Camargo - Agência USP - 01/02/2010


O lodo de esgoto, em uma dose de 7,7 toneladas por hectare, aumenta em 8% o volume de madeira com casca no cultivo de eucalipto em relação ao uso somente de adubos minerais.

Esse foi um dos principais resultados que a engenheira agrônoma Lúcia Pittol Firme constatou em sua tese de doutorado, que faz parte de um experimento realizado pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA) da Escola Superior Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba.


Menos adubos por hectare

No tratamento com adubo mineral de modo convencional, com aplicação de 84 quilos (kg) por hectare de fósforo e 142 kg por hectare de nitrogênio, o volume de madeira obtido foi de 150 metros cúbicos (m³) por hectare.

Já com a aplicação de 7,7 toneladas por hectare de lodo e 28 kg por hectare de fósforo, sem adição de nitrogênio, foi estimado um volume de madeira de 162 m³ por hectare.

Além de aumentar a produtividade, a aplicação de lodo nessa dose permite reduzir o uso de adubos de nitrogênio e fosfato em, respectivamente, 100% e 66%.


Minerais nas plantas

Além disso, se observou que, conforme se aumentava a dose de lodo, também crescia a quantidade de minerais, como ferro, cobre, zinco e magnésio. A quantidade desses elementos aumentava tanto no solo como na biomassa total da planta, que é composta por lenha, folha, casco e galho.

Apesar disso, Lúcia afirma que o lodo não possui todos os minerais necessários para a adubação. Por exemplo, no experimento, devido ao baixo teor de potássio no lodo, foi aplicado 175 kg por hectare desse mineral. Em compensação, a pesquisadora diz que o lodo não causou a contaminação do sistema solo-planta.


Adubo de lodo

Com parceria da Suzano Papel e Celulose, empresa de base florestal, o experimento foi conduzido em área comercial da empresa, em Itatinga (SP). Para verificar os efeitos do lodo de esgoto, Lúcia preparou quatro doses diferentes para lodo, quatro para nitrogênio e quatro para fósforo. "Primeiro aplicamos o lodo sozinho. Depois, para cada tratamento foi aplicada uma quantidade de fosfato e nitrogênio", explica Lúcia.

Da combinação das doses de cada um desses componentes do experimento, se obteve 64 tratamentos. Houve ainda uma repetição da aplicação das combinações para verificação dos dados, somando 128 tratamentos.

Feitas as aplicações das doses, após 43 meses do plantio, Lúcia coletou os dados. No final, se chegou à quantidade de 7,7 toneladas por hectare como dose ideal do lodo.

Segundo Lúcia, foi estabelecida essa quantidade não somente pela produtividade, mas também porque é a dose que contém a quantidade limite de nitrogênio (de 142 kg por hectare), de acordo com o critério estabelecido pela resolução 375 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) do Ministério do Meio Ambiente.


Vantagens e desvantagens

Lúcia lista alguns benefícios da aplicação de lodo de esgoto. Ela destaca o aumento na produtividade e diminuição dos custos, visto que a utilização do lodo não é cara e, com ele, se usa menos adubos minerais, que têm um preço elevado.

Porém, dependendo da origem do lodo, ele pode conter metais pesados, resíduos orgânicos tóxicos e outros componentes danosos à produção agrícola e à saúde humana.

No caso do experimento, foi utilizado lodo de esgoto da Estação de Tratamento de Jundiaí (SP). O professor acredita que a utilização do lodo como adubo depende do município de origem e, principalmente, do tratamento que teve: "Com tratamento adequado, (o lodo) poderá ter um aproveitamento na agricultura".

Fonte:
Inovação Tecnológica